"Quando você abre o livro, é como num teatro: ali está a cortina. Você a arrasta para o lado, e a apresentação começa."
A semana começa e mais uma vez estamos aqui para falarmos dos nossos livros preferidos. E hoje é mais que especial, já que se trata de um livro que narra o nosso maior sonho: entrar no universo literário. Sim, sim. Vamos resenhar hoje Coração de Tinta!
" Na minha casa, todos os livros estão bem guardados. Você sabe, eles são os meus filho, meus filhinhos de tinta preta, e eu cuido muito bem deles."
Há muito tempo Mo decidiu nunca mais ler um livro em voz
alta. Sua filha Meggie é uma devoradora de histórias, mas apesar da insistência
não consegue fazer com que o pai leia para ela na cama. Meggie jamais entendeu
o motivo dessa recusa, até que um excêntrico visitante noturno finalmente vem
revelar o segredo que explica a proibição. É que Mo tem uma habilidade estranha
e incontrolável: quando lê um texto em voz alta, as palavras tomam vida em sua
boca, e coisas e seres da história surgem como que por mágica. Numa noite
fatídica, quando Meggie ainda era um bebê, a língua encantada de Mo trouxe à
vida alguns personagens de um livro chamado Coração de tinta. Um deles é
Capricórnio, vilão cruel e sem misericórdia, que não fez questão de voltar para
dentro da história de onde tinha vindo e preferiu instalar-se numa aldeia
abandonada. Desse lugar funesto, comanda uma gangue de brutamontes que espalham
o terror pela região, praticando roubos e assassinatos. Capricórnio quer usar
os poderes de Mo para trazer de Coração de tinta um ser ainda mais terrível e
sanguinário que ele próprio. Quando seus capangas finalmente sequestram Mo,
Meggie terá de enfrentar essas criaturas bizarras e sofridas, vindas de um
mundo completamente diferente do seu.
Haha, meio grande essa sinopse, não?
Antes de começarmos preciso deixar algo bem claro aqui: Eu sou totalmente e inegavelmente apaixonada por esse livro. Sério. Não é um quedinha não. Não é apenas gostar. Eu realmente o amo. Amo a história, os personagens, as surpresas. Tudo! Esse é um livro que eu adoraria ter escrito.
Agora que já colocamos as cartas na mesa, vamos à resenha!
Eu não gosto de citar nomes, mas foi Cornelia Funke, Cornelia Funke, quem escreveu este livro. Sim meus amigos, a escritora alemã escreveu em 2004 o livro que só chegaria aqui no Brasil dois anos depois, em 2006. E não foi só. Além desse livro, ela escreveu Sangue de Tinta e Morte de Tinta. Tendo escrito O Senhor dos Dragões e O Cavaleiro do Dragão antes e A Maldição da Pedra e Sombras Vivas depois.
O livro virou filme numa produção estadunidense em 2008 e até que é bem fiel. Uma produção que dá gosto de vê.
Neste livro é narrada a história de Mo e Meggie, pai e filha que compartilham o amor pelos livros. Meggie herdou do pai o gosto de ler e a maneira como cuidar de seus pertences. Mo é um encadernados, mas a filha prefere chamá-lo de médico de livros, já que é basicamente isso que ele faz: salvar os livros.
Os dois nunca param num lugar só, sempre viajando para atender melhor os pacientes de Mo. Pelo menos era isso que Meggie acreditava. Mal sabia que existia um motivo obscuro para sua viagens excessivas. Motivo esse que explicava o porquê do seu pai nunca ler em voz alta.
Acontece que numa noite, Mo lia para sua filha e sua mulher, quando algo estranho aconteceu. Ele acabou por libertar do livro estranhos personagens, aprisionando em seu lugar sua esposa e alguns animais.
Sim, você não leu errado. Mo tinha o poder de "trocar"personagens ficticios por pessoas reais. Como se sua voz fosse a chave de um portal, ligando os dois mundos. Incrivel, não?
Mas como dizia o avô do Peter Park: Com grandes poderes vem grandes responsabilidades.
Esse poder, que nós meros mortais tanto admiramos e ansiamos possuir, foi a ruina de Mo. Foi por causa desse "dom" que ele acabou por trazer vilões para este mundo, tão cheio deles. E ainda perdeu sua amada.
Foi ai que Mo jurou nunca mais cometer esse erro.
Anos se passam e Meggie continuava sem conhecer esse segredo. Crente que sua mãe a havia abandonado, ela cresce tendo como apoio seu pai e seus adorados livros.
Mas a vida deles começa a mudar novamente.
Numa noite chuvosa, eis que aparece em sua casa Dedo Empoeirado.
Mas quem é esse?
Ele é um dos personagens que Mo trouxe para o nosso mundo. Pro mundo dele. Vocês entenderam.
Dedo Empoeirado trazia noticias, que é claro não eram boas. Capricórnio, o grande vilão que Mo trouxe à vida, continuava a sua procura. Ele desejava que o pai de Meggie lê-se um dos maiores vilões do livro, para enfim acabar com o mundo.
Os três então embarcam numa viagem, fugindo mais uma vez de Capricórnio. O que faz com que Meggie passe a, pouco a pouco, conhecer o seu passado. Mas isso não significa necessariamente que ela tenha paz. O conhecimento só traz mais angustia e mais duvidas.
O livro é envolvente e muito detalhista. Eu, particularmente, não gosto de muitos detalhes. Existem alguns livros por ai que se prendem tanto ao detalhe que acabam por esquecer de focar no mais importante. Mas Coração de Tinta não é um deles. Por mais detalhes que ele lhe ceda, não se torna cansativo, pelo contrário. A narração, em terceira pessoa, nos presenteia com detalhes que serão necessários adiante, por isso aconselho para prestarem atenção nisso.
Os personagens são bem construídos. A doçura de Meggie é leve e contrasta com sua impetuosidade e seu desejo de conhecer seu passado. Mo é protetor e dócil, mas sabe se impor nos momentos tensos. Dedo Empoeirado tem o "que" de irresponsável e até mesmo não confiável, mas aprendemos a confiar nele e aos poucos vamos conhecendo um pouco do sue lado amável. Elinor é de início mal humorada e ranzinza, nada parece agradá-la. Mas pouco a pouco vemos que na verdade ela só é uma velha solitária, com um amor imenso por seus livros, mas com certas limitações no convívio social.
Até mesmo os vilões são bem arquitetados e no fim passamos a ter noção dos seus motivos e razões, sejam eles nobres ou não.
É impossível não gostar dos personagens.
O enredo também não fica pra trás. Quase inteiramente fantasioso, por conta de sua magia, ele nos leva a crer que "há mais coisas entre o céus e a terra do que supõe nossa vã filosofia". Em contra partida, também apresenta bem as relações humanas e nos ensina que nenhum homem é totalmente das trevas ou totalmente da luz.
Ele tem quase 500 páginas, mas não se assustem. Sua grandiosidade é ambigua. Tanto em tamanho, quanto em talento.
É verdade que pode chegar a ser um pouco cansativo, mas este livro é um desafio delicioso com uma surpresa ainda mais gostosa de se descobrir.
Você aceita o desafio?
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