Olá galerinha, como passaram o final de semana? Espero que bem. Hoje eu tenho um post pra lá de especial, não somente por se tratar da primeira resenha de livro do ano, mas também por ser sobre o meu novo livro do momento.
Vocês já adivinharam? Se bem que o título entrega, mas quem ta me acompanhando nas redes sociais sabe bem que eu não sei falar de outra coisa. Ora bolas, até a foto de perfil do blogger eu mudei por conta desse livro. E não foi a única coisa que mudou sobre mim não. Vamos falar mais sobre isso?
Antes de qualquer coisa, acho importante apresentar antes do livro, a pessoa responsável por essa obra: Rupi Kaur. Vocês já vão entender o porquê.
Nascida na Índia, na cidade de Punjab, muito cedo ela se mudou com os pais para Toronto, no Canadá. O choque de cultura não foi a única coisa que a pequena teve que lidar, já que tinha problemas para se comunicar com as outras crianças, tendo assim que passar seus dias isolada apenas com os livros como companhia.
Ela que sempre teve um lado artístico aflorado, herdou da mãe o hobby de desenhar e pintar de sua mãe. Mas, a partir dos 17, esse hobby é posto de lado quando sua nova paixão, a escrita, toma espaço.
“Escrever e desenhar eram formas de escapar ao que se passava na escola e de tudo que eu não gostava."
Mesmo escrevendo e postando em redes sociais, Rupi demora quatro anos pra abandonar a anonimato e assinar seu próprio nome.
Mas é em março de 2015 que a poeta fica conhecida, não por seus poemas, mas por uma polêmica envolvendo o Instagram. Tudo por ter publicado uma foto na qual ela aparecia deitada de costas e sua calça cinza exibia uma pequena mancha de menstruação. Eis o motivo da censura do Instagram. É válido ressaltar que a imagem fazia parte de um ensaio para o curso de retórica visual da Universidade de Waterloo, na qual abordava esse tabu.
“Obrigada, Instagram, por fornecer a resposta exata que meu trabalho foi criado para criticar. Vocês deletaram a minha foto duas vezes, afirmando que ia contra as diretrizes da comunidade. Eu não vou pedir desculpas por não alimentar o ego e orgulho de uma sociedade misógina, que terá o meu corpo em uma roupa íntima, mas não está de acordo com um pequeno vazamento quando as suas páginas estão cheias de incontáveis fotos onde mulheres (muitas menores de idade) são objetificadas, pornificadas e tratadas como menos que humanas”, desabafou em sua conta na rede social.
É somente em 2017 que seu livro é traduzido para outras linguás, como português e espanhol. Mas não pense que ela tem apenas o dom das palavras, a mulher ainda domina a arte da ilustração, design, fotografia, videografia, direção de arte e performance.
Agora que estamos devidamente apresentados vamos falar desse sucesso de vendas segundo o The New York Times.
"aqui está a jornada de
sobrevivência pela poesia
aqui está o sangue suor lágrimas
de vinte e um anos
aqui está o meu coração
em suas mãos
aqui está
o amor
a dor
a ruptura
a cura"
É difícil resenhar um livro de poemas, justamente porque poemas são pedaços, são fios que nem sempre fazem parte do mesmo novelo e cada um tem sua rima, sua história, sua trajetória, seu sentimento que ainda vai despertar no peito de quem o lê. É complicado. Mas preciso.
Ainda mais quando falo sobre esse livro em particular, que é tão pesado e ao mesmo tempo alivia o nosso coração ao saber que pelo menos um poema vai nos marcar. E quem me dera se fosse apenas um, mas é a prova de que esse livro me conquistou são as orelhas que fiz na página, os marca-textos que passei em vão, na tentativa de me vingar da cicatriz que esse livro deixou em mim.
Outros Jeitos de Usar a Boca é dividido em quatro partes, como diz o poema destacado acima. Em ordem: a dor, o amor, a ruptura e a cura. E vou falar, não é porque parece ser bem separado os poemas felizes e tristes que assim é, não se engane. Você vai chorar nos quatro estágios, vai se identificar, vai perceber que aquele poema alegre é um tanto perturbador e, pior, que você já passou por isso. E o que mais me encantou na Rupi é que ela não é de medir palavras, ela é certeira. Vai falar doa a quem doer, seus poemas não são para enfeitar, são para denunciar. Mas também pra acalentar, afinal, assim como no livro, a cura uma hora chega.
"você me diz para ficar quieta porqueminhas opiniões me deixam menos bonita
mas não fui feita com um incêndio na barriga
para que pudessem me apagar
não fui feita com leveza na língua
para que fosse fácil de engolir
fui feita pesada
metade lâmina metade seda
difícil de esquecer e não tão fácil
de entender" (p.30)
Com ilustrações da própria autora, o livro é bem bonito visivelmente. As folhas são amareladas e mais grossinhas, o que pra mim dão um charme a mais no livro. Mas o que me mais me chamou atenção não foi o design do livro em si, mas sim dos poemas de Rupi que, estruturalmente falando, são um pouco diferentes do que estamos acostumados, então fui pesquisar.
Todos os seus poemas são em letra minúscula e a única pontuação existente são os pontos finais. Mas eles nem sempre aparecem. O que pude perceber, é que o ponto aparecia mais como um toque dramático do poema, como pontuação em si. Mas essa escolha não foi algo aleatório, na verdade esse modo de escrever é inspirado em sua escrita nativa chamada "gurmukhi", onde não há diferenciação de letras maiúsculas ou minusculas e a única marcação é o período.
“Todas as letras são tratadas da mesma forma. Eu gosto de como isso é simples. Como é simétrico e absolutamente direto. Também sinto que há um nível de igualdade que essa visualidade traz ao trabalho. Uma representação visual do que eu quero ver mais de dentro do mundo: igualdade”, diz Rupi.
“É menos sobre quebrar as regras do inglês (embora isso seja muito divertido), mas mais sobre amarrar em minha própria história a herança dentro do meu trabalho”, completa.
"não quero ter vocêpara preencher minhas partes vazias
quero ser plena sozinha
quero ser tão completa
que poderia iluminar a cidade
e só aí
quero ter você
porque nós dois juntos
botamos fogo em tudo" (p.59)
Outra coisa muito forte nos poemas de Rupi Kaur é o empoderamento lento que eu lirico aprende em cada etapa, a cada novo poema. O que pra mim ilustra muito bem que nem sempre a gente nasce sabendo o que é bom pra gente, o que é relacionamento sadio e o que é armadilha. E o eu-lirico também não, mas ao passo que os poemas vão sendo lidos, que o eu-lirico vai passando pro provações podemos ver aí um belo crescimento.
E falando em empoderamento, tenho que destacar que a autora é sim feminista, amém. Tanto que seus poemas são marcados por questões femininas. Um homem pode até ler e se emocionar com essa obra, mas ele nunca vai entender a magnitude dos problemas destacados aqui, nunca vai vivenciar isso na pele. É como uma pessoa branca ler poemas sobre o cotidiano negro, pode até se emocionar, mas não vai lhe tocar da forma que tocaria quem realmente passou por aquilo.
Por isso considero essa obra poderosa. Com temas como estupro, relacionamentos abusivos, autodescobertas, amarras psicológicas tanto de família como de companheiros e outros assuntos espinhosos, Rupi trata com louvor e simplicidade cada um desses dilemas. Com simplicidade, mas não com leveza. Até porque, nada disso é fácil de engolir. Quanto mais de digerir.
Longe de mim assustar vocês e evitar que tenham contado com esse livro. Enfatizo a dureza das palavras apenas como precaução. Pra mim, deveria ser uma leitura obrigatória. Mesmo que você acabe por não gostar, mas só de criar essa discussão, só de fazer você pensar pelo menos por um momento nos temas que Rupi fala, essa resenha já valeu a pena. Porque esses assuntos precisam ser falados, precisam ser discutidos. Mais que isso, precisam ser resolvidos.
O livro foi publicado inicialmente de forma independente pela própria autora, ainda assim se tornou um fenômeno em pouco tempo ficando 40 semanas seguidas na lista de mais vendidos do The New York Times. Aliás, ele nem tinha esse nome. Seu titulo original era "milk and honey", ou traduzindo, "leite e mel". Originado de um poema seu sobre o genocídio de 1984 do povo sikhs (sikhismo, religião monoteísta a qual Rupi é adepta), a autora explica o motivo do título:
“Eu escrevo que eles saem desse terror tão suave como o leite e tão grosso como mel”
Seus poemas são curtos, mas diretos. Simples, mas complexos. A escrita em si é leve, mas o tema é pesado. E muda totalmente seu pensamento. Te da uma nova visão, um novo ângulo que você não tinha notado. Rupi ainda relevou em entrevistas que suas histórias não são ficção, pelo contrário, aconteceram com ela ou com alguém próximo como uma prima, uma vizinha, uma amiga. Ela diz ainda que como as questões são pessoais ela consegue assim transmitir tão bem as emoções.
Eu queria mesmo era destacar todos os poemas aqui, assim como fiz no meu exemplar. Mas acho desnecessário, exaustivo e belo balde de água fria. Se bem que seus poemas estão tão famosos que não é raro vê-los por aí no Facebook ou Instagram, principalmente se for a rede social desse blog aqui. Podem me culpar por isso.
"você tem o hábito de depender
dos outros para
compensar aquilo que
você acha que não tem
quem te fez
cair na história
de que outra pessoa
deveria te completar
se o máximo que alguém pode fazer é complementar" (p. 154)
Por fim, eu recomendo sim esse livro para todos, quanto mais leitores melhor. Leiam, degustem, apreciem. Escolham um poema aleatório, como se esperassem que dali saísse algum tipo de mensagem pessoal para vocês. Talvez isso realmente aconteça. E não se esqueçam, comentem o que acharam dessa resenha. Vamos continuar essa conversa, não faça disso aqui apenas um monólogo.
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ResponderExcluirFico feliz que tenha trazido mais da autora pra cá. Apesar de ver várias resenhas elogiando a obra e ter curiosidade para ler, não a conhecia e passe a admirá-la. <3 Espero conseguir dar uma chance em breve!
ResponderExcluirBeijos
Sai da Minha Lente
Oi Camila!
ResponderExcluirMenina que resenha linda me cativou, parabéns. Quero muito ler esse livro de poesia, pelo que entendi essa autora vai direto ao ponto, sem meias verdades e isso me chamou a atenção e também da transparência da escrita em algum quote que colocou. Obrigado pela dica, bjs!
Oi Camila.
ResponderExcluirTambém acho difícil resenha livros de poemas, mas pela sua opinião o livro parece ser muito bom de lê-lo. Eu não conhecia ele e gostei de saber que os poemas são curtos e a escrita ser leve. Vou adicionar na minha lista. Espero ter a chance de lê-lo.
Bjos
https://historiasexistemparaseremcontadas.blogspot.com/
Entendo perfeitamente o seu amor por esse livro, ele é realmente incrível e a forma como cada poema toca nosso coração é incrível! Agora leia o próximo dela, você vai amar também!
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirNão sou muito fã de poemas, mas a diagramação deste livro é realmente muito bonita! O livro em si parece bem bonito.
Debyh
Eu Insisto
Eu já tinha ouvido falar dessa autora, mas nem sabia sobre esse post que ela tinha feito no instagram e a repercussão que deu. Não conhecia a obra, e depois de ler sua resenha fiquei muito afim de conhecer os poemas dela.
ResponderExcluirbeijos
Não conhecia o livro, talvez porque não seja tão ligada em poesia, mas como poesias têm vindo a mim, talvez seja o momento de pesquisar e me conectar com este gênero.
ResponderExcluirBjo
Tânia Bueno