Olá, olá!
Achou que eu ia deixar vocês na mão? Haha, claro que não. Na verdade o meu "atraso" foi culpa de vocês.
Como assim?
Ah, eu tava preparando uma surpresa para vocês, já que o blog vai fazer dois meses. Eu sei que é bem pouquinho tempo, mas quem liga. Eu quero dar presente e vou dar presente. O blog é meu mesmo, então shiu! Eu sei muito bem que você adorou a ideia e ta super curioso para saber.
Mas não foi pra isso que eu vim falar com vocês. Claro que não.
E que resenha, hein?
Estamos progredindo aqui.
Narrada pelo protagonista, o adolescente Alex, esta
brilhante e perturbadora história cria uma sociedade futurista em que a
violência atinge proporções gigantescas e provoca uma reposta igualmente
agressiva de um governo totalitário. A estranha linguagem utilizada por Alex -
soberbamente engendrada pelo autor - empresta uma dimensão quase lírica ao
texto. Ao lado de "1984", de George Orwell, e "Admirável Mundo
Novo", de Aldous Huxley, "Laranja Mecânica" é um dos ícones
literários da alienação pós-industrial que caracterizou o século XX. Adaptado
com maestria para o cinema em 1972 por Stanley Kubrick, é uma obra marcante:
depois da sua leitura, você jamais será o mesmo.
“Alguns de nós têm que lutar. Existem grandes tradições de
liberdade a defender. Não sou homem de partidos políticos. Onde vejo a infâmia,
busco erradicá-la. Os partidos políticos não significam nada. A tradição da
liberdade significa tudo. As pessoas comuns deixarão isso passar. Elas venderão
a liberdade por uma vida mais tranquila.”
Antes de começar, eu gostaria de ressaltar algo. O livro foi escrito com todo um trabalho e dedicação que é muito raro vermos nos dias de hoje. Não estou querendo desmerecer nenhum autor, longe disso. Mas devemos encarar que há muitos pseudo escritores que escrevem um livro sem nenhuma pesquisa de fundo. Há casos, exceções, que realmente não se precisa de pesquisa. Quando vamos falar de algo do nosso cotidiano, por exemplo. Mas não é disso de que estou falando.
Anthony Burgess escreveu uma distopia, o que por si só já é difícil e que realmente precisa de alguma pesquisa. Mas ele ainda foi mais além. Falou sobre a juventude, sobre a irresponsabilidade, sobre fazer o mal apenas pelo prazer de fazê-lo. Sua obra é inspirada nas mudanças em que ele encontrou ao regressar de viagem, chocando-se com a modernidade que pouco há pouco invadia seu espaço.
Ele se preocupou com a linguagem, as gírias, a língua do que hoje chamamos de tribos urbanas.
E é aqui que eu entro. Há três formas de ler este livro.
Ou você lê sem o glossário - coisa que não tem nas edições britânicas, já que provocar choque e estranheza era uma das prioridades de Burgess.
Ou você lê junto com o glossário.
Ou você lê sem e quando acabar dá uma olhada no glossário.
A princípio, eu iria apenas ler sem olhar o glossário. Não estava a fim de ir depois e descobri o que aquelas palavras estranhas queriam dizer.
Mas, porém, todavia, entretanto, eu não aguentei de tanta curiosidade. Então eu olhei o glossário quando terminei o livro. O que foi muito estranho e bacana ao mesmo tempo. Enquanto eu havia errado em algumas das minhas deduções, eu consegui acertar a maioria.
Mas não estou dizendo que é desse jeito que você tem que fazer. A viagem é sua, faça da maneira que achar mais confortável.
O livro narra, em primeira pessoa, a história de Alex Delarge, um adolescente que depois da aula, ou depois de faltar à aula, sai pelas ruas de Londres juntos com seus druguis tentando se divertir de alguma forma. E quando digo se divertir, você pode imaginar de tudo. Desde perturbar alguém e roubá-lo até estupro.
“O dia era muito diferente da noite. A noite pertencia a mim
e aos meus amigos e a todo o resto dos jovens, e os burgueses velhos
espreitavam dentro de suas casas, bebendo das transmissões mundiais idiotas,
mas o dia era dos velhos e sempre parecia ter mais policiais durante o dia
também.”
Tudo isso se passa num futuro distante, onde a violência saiu do controle e todos preferem ficar dentro das suas casa, onde é mais seguro. Seguro dentro dos parâmetros, quer dizer.
É bem difícil no começo, devido a linguagem totalmente nova que temos acesso. Mas conforme vamos lendo, nos acostumamos e até arriscamos alguns palpites. Horrorshow foi uma das primeiras palavras que consegui entender o verdadeiro sentido, já que Alex a usava várias e várias vezes.
Mas não vamos mais focar na linguagem.
Vamos focar na história.
O livro é dividido em três partes. A primeira parte narra todas as aventuras de Alex, falando sobre suas violências e sobre o prazer que ele sentia ao cometê-las. Ele consegue se safar de tudo que lhe acontece, sempre fugindo dos policiais e fingindo ser bom moço. Paga bebidas para duas senhoras, que logo dão sua palavra aos policiais, alegando que os garotos não saíram nem um instante de sua vista.
Vamos por parte.
"Irmãos, esse negócio de ficar roendo as unhas dos pés sobre
qual é a causa da maldade é que me torna um rapaz risonho. Eles não procuram
saber qual é a causa da bondade, então por que ir à outra loja? Se os plebeus
são bons é porque eles gostam, e eu jamais iria interferir em seus prazeres, e
o mesmo vale para a outra loja. E eu frequento a outra loja. E mais: a maldade
vem de dentro, do eu, de mim ou de você totalmente sozinhos, e esse eu é criado
pelo velho Deus, e é seu grande orgulho. Mas o “não-eu” não pode ter o mau,
quer dizer, eles lá do governo e os juízes e as escolas não conseguem permitir
o mau porque não conseguem permitir o eu. E não é a nossa história moderna,
meus irmãos, a história de alguns bravos eus combatendo essas grandes máquinas?
Estou falando sério sobre isso com vocês, irmãos. Mas eu faço o que faço porque
gosto."
Um trecho um pouco grande, é verdade. Mas totalmente necessário. Não poderia nunca resumi-lo ou cortá-lo.
Vocês entenderam o que Alex nos diz?
Ele não diz que o mal, o prazer de fazer mal, é uma consequência do seu passado. Não é por causa da sua família, nem pela sua pobreza. Não é porque quer atenção e muito menos porque tem algum distúrbio, síndrome, ou coisa assim. Não. Ele diz, com todas as letras, que faz o mal porque quer fazer. Por que isso vem de dentro, faz parte dele.
Alex não é problemático. Ele sabe o que está fazendo e gosta.
Tendo dito isso, vamos ao segundo ponto.
Alex afirma ainda que toda a nossa história, tudo que vivemos, é sempre alguém, corajoso segundo ele, combatendo sistema.
Não posso deixar de concordar até certa parte. De fato há uma repetição na nossa história. Uma repetição que fica óbvia se olharmos as distopias ou simplesmente o passado.
Mas Alex, por mais que goste de seu papel do vilão, afirma que faz o que faz não por mudar os conceitos, não é uma revolução. Ele faz o que faz porque gosta. Simples.
Agora podemos seguir adiante.
Alex tem sua rotina. Ele vai a escola, ou dorme o dia inteiro, e a noite sai com seus amigos para a rua. Mas a gente sabe que não vai ser assim sempre. Um dia, quando ele tentava invadir a casa de uma senhora, ele acaba se dando mal.
Depois de discutir com seus amigos sobre quem era o líder - com ajuda de um canivete -, Alex decide invadir a casa de uma senhora. Mas o plano dá errado. Em partes por sua ambição e em partes pela vingança dos seus amigos, que era consequência, outra vez, de sua ambição. Tudo dá errado. Alex se machuca quase tanto quanto a mulher e a policia o pega. Ele já tinha ficha, obviamente, e mesmo tendo 15 anos foi preso.
Esqueci de dizer que ele tinha 15? Fiz de propósito :3
E é ai que acontece a segunda parte.
Não vou dizer o que Alex passa na prisão, é uma das melhores partes e é realmente surpreendente. Mas saibam apenas de uma coisa, se não for mais, o que o governo faz com Alex é quase tão abominável quanto o que ele fazia.
Depois de toda essa experiência, Alex muda. Não vou dizer para melhor, porque não acho que o estado em que ele se encontra seja o melhor. Mas digamos que ele para de sentir prazer com o mal.
“Você pecou, suponho, mas o seu castigo foi além de qualquer
proporção. Eles transformaram você em alguma coisa que não é um ser humano.
Você está comprometido com atos socialmente aceitáveis, uma maquininha capaz de
fazer somente o bem. Música, sexo, literatura e arte, tudo agora dever ser
fonte não de prazer, mas de dor.”
Tudo muda. Alex. Seus antigos amigos. Até alguns personagens que já havíamos conhecido antes,
Mas a sociedade continua a mesma.
Por mais que o índice de violência tenha caído, ainda é a mesma sociedade destruída e ruim de se viver.
Laranja Mecânica não é um simples livro. Não é apenas uma história sobre um vilão. É toda a verdade obscura, aquela que fingimos não vê, jogada na nossa cara.
Não tem como ler este livro e não mudar seu conceito sobre... tudo.
Se existe um livo que se deva ler antes de morrer, é este.
Mas as minhas palavras não faz jus ao que este livro ensina. Somente lendo para entender.
“A questão é se uma técnica dessas pode realmente fazer um
homem bom. A bondade vem de dentro. A bondade é algo que se escolhe. Quando um
homem não pode escolher, ele deixa de ser um homem.”
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